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Hidra de Lerna - quando o "monstro” é alimentado pelos nossos próprios golpes

  • Foto do escritor: Psicóloga Beatriz Job
    Psicóloga Beatriz Job
  • 19 de nov.
  • 4 min de leitura

Você gosta de ouvir histórias? Histórias que atravessam gerações através de suas narrativas recheadas de memórias, ensinamentos e dos mistérios de outra época. Podendo algumas delas serem contadas através de mitos, nos quais os contadores usam elementos fora da realidade como: heróis, deuses e outros seres sobrenaturais para abordar desde a origem do mundo até a cultura e as tradições de um povo. Não é à toa que são consideradas como pequenos portais que nos conectam com o que já existiu (ou não). E todas elas trazem uma grande lição a nos ensinar – tanto para quem conta quanto para quem ouve. Seja sobre guerras, superações ou autoconhecimento. Talvez por isso as histórias sejam tão importantes para a humanidade.


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Dessa forma, uma das mitologias que será analisada neste artigo é da “Hidra de Lerna”. Um conto grego sobre uma serpente aquática gigante que tinha como peculiaridade possuir múltiplas cabeças. O número de cabeças varia de acordo com a fonte, porém um detalhe se mantém em todas as versões: para cada cabeça cortada, duas nasciam no lugar. 


É uma criatura mitológica muito presente em filmes, desenhos animados e jogos como uma inimiga poderosa, pois aquilo que poderia facilmente derrotar qualquer criatura (ter a cabeça cortada), no caso dela a tornava mais forte.


Além dessa alta capacidade de regeneração, a Hidra também possuía um veneno extremamente poderoso: uma picada seria fatal para quem a enfrentasse. Mas foi durante uma batalha que Hercules – um semideus, com o auxílio de Iolao, usou do fogo como ferramenta de combate para cauterizar as feridas no pescoço da Hidra assim que ele cortava a cabeça, pois o fogo impedia a regeneração. E foi através da sabedoria e colaboração de dois guerreiros que se tornou possível vencer as grandes habilidades do mostro.

“E se o que tornava a Hidra mais forte…

fossem justamente os próprios guerreiros?”

Será que a Hidra seria tão poderosa se, em vez de simplesmente sair cortando suas cabeças, parássemos para analisá-la e questionar quais das nossas atitudes, na tentativa de destruí-la, na verdade a fortaleciam?


Acontece que o mito da Hidra, assim como muitos outros, podem facilmente se adequar a nossa realidade. Porém, as pessoas tendem a não fazer essa correlação porque se prendem à ideia de que não existe mostro de verdade... que eles existem apenas nas histórias. Mas será mesmo?


É possível encontrar monstros fora da mitologia. Inclusive, não é necessário ir muito longe para encontrá-los, basta olhar para si e perceberá que a maioria vive dentro de nós! Que se tornam cada vez mais fortes sempre que escolhemos calar um sintoma, uma dor, fugimos do conflito ou negamos enxergar que o veneno que está a circular na nossa corrente sanguínea.


E assim como as cabeças da Hidra, tudo aquilo que é negado no campo emocional, tende a voltar com mais força. As doenças psicossomáticas são um excelente exemplo. Para cada palavra engolida, a garganta inflama; a azia queima; e o estomago dói, como se algo que você tivesse engolido não lhe caísse bem – igualmente ao veneno da Hidra.

“Um sintoma só é realmente tratado quando o cuidado alcança a origem do problema e não apenas o desconforto que ele provoca.”

O sintoma da Hidra era as cabeças que nasciam a cada corte. O corte provocava o desconforto. E onde há desconforto, o sintoma surge para sinalizá-lo. Na batalha, Hércules só venceu a Hidra quando parou de atacar o sintoma e passou a agir na origem/no desconforto — cauterizando, e não apenas cortando. Ou seja, você deve eliminar o sintoma junto com a origem dele.

Ao invés de eliminar o que incomoda de forma impulsiva (cortando tudo que aparecer pela frente), precisamos aprender a “cauterizar” o que nos fere, tratar a raiz do problema, encarar o que realmente sustenta nossas angústias.

No fim das contas, a Hidra não era invencível. Ela reagia como uma ferida na qual tem sua “casca” arrancada repetidas vezes, impedindo que a ferida cicatrize do jeito certo.

Outra interpretação possível do mito é a da resiliência: eram justamente os ataques e as feridas que a fortaleciam! Representando que você pode ser capaz de retornar dessas perturbações do dia a dia mais forte. Claro que é necessário cautela para que você não se torne a pessoa que sempre precisa tirar algo de bom de cada batalha. Afinal, existem aquelas das quais não sairemos vencedores... assim com a Hidra.

Essa leitura mais psicológica sobre o mito conta sobre as batalhas silenciosas que travamos dentro de nós. Em que para sairmos vitoriosos, precisamos derrotar a nós mesmos! Porém, não há necessidade de ser desta forma.

  • Pois não se trata de cortar cabeças, mas encarar verdades (dentre elas, dores).

  • Não confundir resistência com teimosia. Que a partir da teimosia, os problemas podem se duplicar e a resistência servir apenas para suportar o que não deveria ser suportável.

  • Não é sobre força, mas coragem, sabedoria e amadurecimento emocional.


E assim como Hércules, pedir ajuda quando necessário para que as batalhas não sejam tão solitárias. Que no lugar de uma cabeça que nasce para apenas atacar, haja duas para pensar e levá-los àquilo que realmente impede que o veneno continue na corrente sanguínea e permita ter: uma vida menos reativa, mais humilde, inteira e sincera.



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Beatriz Job

Psicóloga para entender o comportamento humano. Psicanalista para desvendar os mistérios do Inconsciente. E Escritora para descrever as linguagens da mente, do coração e da alma.

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