Doenças Respiratórias: falta de ar ou falta de espaço?
- Psicóloga Beatriz Job
- 27 de ago.
- 4 min de leitura
O AR é invisível, mas está em tudo: passando entre as folhas de uma árvore, na formação das ondas, movimentando as nuvens no céu, usado para impulsionar embarcações, mas principalmente, para nutrir o corpo através de um movimento de troca. O ar novo que entra, substitui aquele que não é mais. E com esse “sopro” a vida acontece! Mas o que significa quando esse processo de troca natural oferece dor? Quando respirar deixa de ser uma tarefa simples ou passa a faltar? E doenças respiratórias, como asma, bronquite, rinite, e até crises de falta de ar começam te afetar?

Ao pensar em respirar, automaticamente, pensa-se nos PULMÕES. Eles são uma espécie de filtro que realizam a troca fundamental entre oxigênio e do gás carbônico, sem isso, não sobreviveríamos. Porém, sabe-se que a qualidade do AR é fundamental para que esse processo de filtrassem tenha êxito, e o ar que respiramos todos os dias carrega muito mais do que oxigênio.
Muitas vezes, ele chega nos pulmões carregado de: poluição e fumaça das ruas, com partículas de mofo quando convive em ambientes úmidos, a poeira acumulada no móvel e o cheiro forte dos componentes químicos presentes em muitos objetos de uso diário.
“Mas não é só o ar externo que pode nos sufocar”
Dentro de nós também existem setores difíceis de lidar (ou respirar): relações conflituosas, escolhas, ambientes tóxicos, expectativas frustradas, palavras que nunca foram ditas, responsabilidades que te sufocam etc.
Emoções como tristeza, frustração, medo, aflição e solidão também podem tornar o AR irrespirável. Medos que sufocam mais que fumaça, mágoas que formam camadas de poeira no peito, expectativas que fazem parecer que o espaço de passagem do ar está mais curto, causando falta de ar.
“Assim, o que sufoca não está apenas do lado de fora. Muitas vezes é o seu psicológico que torna o ar seco, pesado ou quase irrespirável”
Na psicossomática, o pulmão significa a nossa capacidade de troca com o mundo. Ou seja, na forma como nos relacionamos com as nossas emoções e pensamentos, com as outras pessoas e com as situações de fora.
Quando há situações ou pessoas que nos deixam pouco à vontade (mesmo que não nos agridam diretamente) faz com que nossa mente entenda aquele lugar ou pessoa como uma ameaça. Logo, a mente e o corpo rejeitarão tudo que estiver presente naquele ambiente para se defender, inclusive o AR. Exemplo:
Você e outras pessoas acabam de sair de uma reunião que durou horas no trabalho e alguém vira para você e diz: “Me sinto sufocada nesse trabalho” OU “Quando ele começou a falar comigo, senti que quase fiquei sem ar de tanto medo de ser demitida”.
Nesse caso, o ar que quase falta pode representar a falta de um espaço interno para entender e expressar o que sente, que no caso era MEDO de perder o emprego. E a sensação de sufocamento pode expressar a dificuldade em dizer não ao que estava sendo solicitado.
“Respirar é acolher o novo e deixar ir o que já não serve”
Além de representar nossa troca com o mundo, o pulmão também simboliza noção de espaço, sensação de liberdade e a capacidade de ampliar. Quando ele se contrai, muitas vezes é o reflexo de pressões emocionais e ambientas que te fazem acreditar que está perdendo espaço para ser visto, reconhecido, ou simplesmente, ser quem é.
Quando as regras e a forma de pensar e enxergar o mundo é muito rígido, perde-se toda a sensação de liberdade para viver, sonhar e criar. E quando existe dificuldade para estabelecer limites, seja consigo ou nas relações, isso refletirá em relações conflituosas e destrutivas que te paralisam, como se sugassem seu AR, impedindo qualquer possibilidade de crescimento.
“Observar como você respira também é uma forma de observar a própria vida emocional”
Como respirar livremente em um ambiente opressor? Ou em uma relação que te deixa coagida? Em um emprego que retira sua autonomia? Ou diante de responsabilidades que, no início, você não escolheu assumir? Na realidade social injusta ou infeliz que está? Às vezes, até a autocrítica constante contribui para que a respiração se torne mais difícil, bloqueando a passagem de pensamentos mais positivos e esperançosos.
Dessa forma, muitas doenças respiratórias podem refletir esse peso emocional. A falta de ar, característica das crises de ansiedade, por exemplo, pode indicar medo de enfrentar situações ou pessoas, insegurança para se posicionar ou dificuldade de expressar sentimentos.
Já a sinusite vai além da inflamação física, ela pode ser um sinal de que algo dentro de você está congestionado, seja raiva acumulada, mágoas que não foram liberadas ou pensamentos e preocupações que se repetem na sua mente e que estão tirando a leveza do dia a dia.
E a rinite pode indicar através dos espirros, coriza ou coceira que algo está irritando o seu sistema emocional: intolerância ou injustiça, dificuldade em lidar com mudanças ou com alguma frustração momentânea do dia ou da vida.
Até mesmo resfriados e gripes recorrentes podem ter relação com sobrecarga emocional, quando o corpo demonstra que precisa de atenção, pausa e cuidado consigo mesmo. Tornando cada sintoma um convite para olhar para dentro, a fim de criar reflexões aprofundadas sobre o estilo de vida que está construindo. Verificando sempre se há ESPAÇO PARA VOCÊ – nesta casa, neste relacionamento, nesta amizade, neste trabalho, neste sonho... em cada setor da sua vida.
Cuidar da saúde emocional e respiratória é algo que deve ser feito em conjunto. Seja através das mudanças de hábitos e ambientes. Do acompanhamento médico quando as condições físicas se tornam limitantes e crônicas. E da psicoterapia parar auxiliar na compreensão das dificuldades e padrões emocionais que impactam o ato de respirar.
Portanto, observar esses sinais é abrir caminho para cuidar de si mesmo, para seguir tendo espaço para crescer, ajustando limites sempre que necessário e buscando maneiras de liberar o que sufoca seu desenvolvimento.
Lembre-se: só existe uma vida leve e fluida quando há espaço para sentir, agir e existir plenamente.

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