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A ilusão por trás de uma vida levada muito a sério

  • Foto do escritor: Psicóloga Beatriz Job
    Psicóloga Beatriz Job
  • 17 de abr.
  • 4 min de leitura

Se for para fazer, tem que ser bem-feito — caso contrário, nem começa. Erros são como bombas nucleares: basta um passo no lugar errado e tudo vai para o espaço. O famoso 8 ou 80! O que toda essa seriedade na forma de agir diante da vida pode significar? Será um grupo de pessoas destinadas a colocar ordem no caos da vida ou apenas comprometidas em tentar se salvar do caos que a vida naturalmente é?


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O problema não está na escolha de levar a vida a sério. Inclusive, se vivida com determinação, responsabilidade e AUTOCONTROLE, pode ser muito benéfica. Mas quem não domina o autocontrole transforma a determinação em OBSESSÃO e as responsabilidades em ALGEMAS.


Imagine Bruno, um homem que, desde jovem, tinha como sonho ter uma carreira reconhecida como advogado. Para chegar ao seu objetivo, foram necessários muitos esforços e dedicação. Durante anos, ele abriu mão de momentos simples como estar entre amigos, descansar nas férias, ter um hobbie ou se dedicar a uma atividade física. Foi pouco presente no relacionamento amoroso e sempre incluiu leituras e estudos nos momentos de lazer. Na visão dele, tudo parecia uma distração — coisas que o afastavam do seu sonho.


E muitos ao redor o aplaudiam, afirmando que sua disciplina e determinação eram admiráveis. Mas, sem perceber, com o tempo já não se tratava mais de determinação — e sim de obsessão: “Nada pode me tirar desse foco!”

“A busca por uma vida bem-sucedida o impediu de vivê-la”

Ele tinha controle sobre a agenda, metas e responsabilidades, mas a ausência de autocontrole fez com que Bruno negligenciasse suas necessidades físicas e emocionais. Aquilo que antes era fonte de motivação e digno de desejo se transformou em uma vida sem leveza e sem alegria. As responsabilidades que ele precisou encarar com seriedade — e que antes o faziam se sentir importante — agora pesavam como algemas invisíveis.


Se escolhesse se divertir um pouco com os amigos, a namorada ou apenas descansar, sentia culpa e uma constante sensação de decepção.

“Mas o que, inconscientemente, esse estilo de vida significa?”

Uma vida rígida, cheia de normas, responsabilidades e controle, geralmente esconde uma dor emocional que ainda não foi elaborada. Vamos retornar ao exemplo do Bruno, agora antes do surgimento do sonho da carreira bem-sucedida.


Bruno tinha um pai muito ocupado, e por isso, não passavam muito tempo juntos. O pai não era de demonstrar afeto, mas fazia questão de cobrar que Bruno tirasse boas notas e fosse um bom aluno. Após alguns anos, a família passou por crises financeiras e os pais de Bruno se separaram. O resultado? O pai tornou-se ausente.


Bruno sofreu muito com a separação e a ausência paterna. Sentiu-se rejeitado. Incapaz de ajudar. Foram eventos da vida que ele não podia controlar. Eventos que causaram grandes conflitos em uma mente ainda imatura para compreender.


Criar algo que o levasse a uma carreira reconhecida, em outras palavras, era uma forma de continuar sendo “o bom aluno” que o pai incentivava como forma de reconhecimento/conexão que ele não sentiu existir entre ele e o pai. Além disso, acreditava que a carreira o protegeria de imprevistos ou situações indesejáveis, como os que viveu na infância, já que um dos motivos da separação dos pais foram os problemas financeiros.


Conforme os anos se passaram, a sensação de insatisfação persistia: sempre havia um novo título a conquistar, um novo projeto para começar, um novo estudo para fazer. Por quê? Porque a satisfação que ele buscava nos resultados ou a segurança que desejava não estavam nas conquistas: era a busca por algo que amenizasse o vazio deixado na infância.

Perceba que a seriedade necessária para conquistar a carreira carregava uma ilusão: a ilusão de controle. Bruno acreditava que, ao planejar cada degrau da sua evolução, se tornaria mais forte para lutar contra o “caos” da sua vida — a dor da rejeição.


Talvez, se Bruno tivesse participado mais dos eventos “ordinários” da vida como lhe foi convidado... o tiraria dessa obsessão, tendo mais espaço para ouvir e compartilhar seus sentimentos e refletir sobre o contexto que estava construindo. E assim, poderia perceber a necessidade de aprender a controlar os impulsos negativos por trás dos seus objetivos — e, ainda assim, construir uma carreira brilhante... com uma vida e relações mais saudáveis.

Na maioria dos casos, a rigidez é um

mecanismo de defesa contra algo mais íntimo seu.”

Pode ser o medo de se reconhecer pequeno diante da vida. Pode ser a dificuldade de aceitar que o caos pode bater à sua porta a qualquer momento — porque nem tudo depende de você.


De fato, é assustador reconhecer que, por mais que se faça “tudo certo”, ainda há grandes chances de falhar, perder, sofrer... Por isso, uma vida levada tão a sério pode parecer tentadora. As regras, a cobrança por “excelência” e a agenda ocupada mantêm a mente distraída de encarar o que está fora de qualquer controle: A DOR QUE O OUTRO PODE TE CAUSAR e O QUE A VIDA PODE TE TIRAR.

Mas, na tentativa de evitar uma vida frustrada, constrói-se uma vida sem prazer. Então, que tal uma vida com menos controle e mais presença?

 

“Anjos podem voar porque levam a si mesmos levianamente.” (G.K. Chesterton)

 

Visto que não somos anjos nem temos asas, o que nos resta é buscar a leveza que pode nos aproximar dessa experiência descrita por G. K. Chesterton. Experimente dar a si mesmo a chance de viver sem medo do “caos”. Ele já existe. Aprenda a viver com ele, não a evitá-lo. Seja um caos familiar, existencial, emocional ou prático, você é capaz de aprender a conviver com isso!


Busque os recursos necessários... não ilusões!

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1 Comment


Bruno Job
Bruno Job
Apr 17

Excelente texto, parabéns! A provocação já começa no título. E ao desenrolar a leitura, muitos insights, desafios e uma nova abordagem/leitura sobre sucesso. Excelente!

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Beatriz Job

Psicóloga para entender o comportamento humano. Psicanalista para desvendar os mistérios do Inconsciente. E Escritora para descrever as linguagens da mente, do coração e da alma.

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