A cansativa brincadeira de ser quem NÃO SOMOS!
- Psicóloga Beatriz Job
- 26 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Como sermos sinceros com as nossas próprias emoções e assumirmos a responsabilidade de sermos “verdadeiramente” quem somos se estamos inseridos na cultura do “faz de conta”?
Na infância descobrimos o quão dinâmico e divertido pode ser trocar de personagens rapidamente dentro da brincadeira: você podia e conseguia ser desde a professora ao aluno, ser o goleiro numa partida de futebol, impedindo que o adversário fizesse gol, quanto estar do outro lado chutando a bola. Imitar um personagem do filme não parecia um desafio, você rapidamente encontrava formas de reproduzir.
Inclusive, certa vez quando criança, eu peguei uma cenoura de brinquedo e a manuseava como um “cigarro” – essa era eu imitando meu pai! Isso acontece porque a brincadeira traz a liberdade de experimentar várias versões e desde pequenos escolhermos quais gostaríamos de ser quando crescer.
Mas o que muitos de nós não imaginávamos é que o que começou como brincadeira, se tornou “coisa séria” no mundo dos adultos! Brincar de ser quem não somos... a diferença é que muitos não retornam para suas versões originais! Ficam o tempo todo no personagem.
Onde foi parar nossa essência? Por que o mundo assumiu essa dinâmica sem fim? Qual é o objetivo de tudo isso?
A repetição desse hábito (traiçoeiro) fez com que acostumássemos a nos mover e comunicar através das falsas aparências. E aqueles que se arriscam a SER autênticos e honestos consigo mesmos, muitas vezes se frustram, ou até são perseguidos POR outras pessoas – situação comum de assistir no universo das mídias sociais.
Acontece que esses quase “policiais” que se unem para defender um ideal, não percebem que muitas vezes defendem algo que não corresponde com a realidade das próprias vidas. Isso vale também para sentimentos: trazem críticas e ofensas para que os outros não notem o quanto os “personagens” deles já não sustentam mais o “drama” em que sua rotina se tornou.
É claro que a generalização não se aplica, afinal, para lutar contra os desafios da vida é necessário assumir papéis diferentes. Mas a grande questão dessa “problemática” gira em torno dos excessos! Ou seja, o que em muitas situações e contextos pode nos ajudar (assim como quando crianças experienciamos que a troca dos personagens podia ser divertida e útil), é necessário observar e identificar quais papéis, ao invés de ajudar, estão nos machucando profundamente!
Não é saudável ficar fora do PAPEL de ser quem você é! Mas por medo de ir CONTRA AO PADRÃO, você renuncia a si mesmo.
É possível ver com clareza se citarmos o seguinte exemplo: “Maria sabe que uma das coisas que a tranquiliza após um dia estressante no trabalho é poder conversar com seu companheiro, só que ela cresceu ouvindo de que era uma pessoa durona e um dos importantes pilares da família. Assim, renuncia à sua necessidade e escolhe não sair da brincadeira de se fazer de “durona”.
O ideal é que ela conseguisse substituir a ideia de “como isso vai afetar o outro” (deixar de sustentar a aparência) por reconhecer e pensar no que ela realmente precisava naquele momento: ser acolhida (ser autêntica). Essa consciência das próprias necessidades é a forma mais honesta e saudável para existir junto à essa cultura do faz de conta. Cria-se um equilíbrio!
Construa momentos que você sabe que pode ser quem você é! De preferência na maioria dos seus contextos de vida, sejam eles pessoais ou profissionais. Para que assim diminua a dúvida entre seguir um padrão imposto pela sociedade (ou por si mesmo) X reconhecer os seus sentimentos e ações necessárias para se oferecer o que for preciso.
O quão longe tem sido essa brincadeira?
Busque compreender o porquê desse sentimento constante de frustração que insiste em ficar mesmo quando nada “aparentemente” parece ter mudado da sua rotina. Pois talvez o problema seja exatamente esse: a falta de mudança... mas não uma mudança com coisas novas, mas uma que te leva a se reconectar com quem é de verdade.
Lembre-se de carregar a coragem contigo nessa jornada! Afinal, escolher viver fora do “faz de conta” pode te colocar em batalhas intensas, mas certamente te levará para uma insana LIBERDADE.

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