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Em um mundo adoecido, aprender a gostar de si é um ato de resistência

  • Foto do escritor: Psicóloga Beatriz Job
    Psicóloga Beatriz Job
  • 17 de jun.
  • 4 min de leitura

Na Grécia antiga, na entrada do templo de Apolo, em Delfos, havia a inscrição grega:“γνῶθι σεαυτόν” que significa “Conhece-te a ti mesmo.” As pessoas que se direcionavam até o templo acreditavam que deus Apolo mostraria respostas sobre o futuro. A curiosidade neste fato histórico é que não é de hoje que as pessoas têm dificuldade de entender que a resposta que se procura fora começa dentro de si. Por esse motivo, a inscrição estava na entrada, para que os visitantes do templo pudessem despertar para a realidade de que o outro é limitado no que se refere às respostas sobre um futuro. Quem dita as regras é o dono da pergunta, e não o dono da resposta – na época, era o Oráculo do templo.


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Cada vez mais, essa busca por respostas, ou melhor dizendo, essa busca por conhecer a si mesmo e, com isso, aprender a gostar de si, vem sendo comprometida pelos excessos, pela pressa, as cobranças, os padrões... uma realidade barulhenta que silencia a todos!


O que antes a palavra “autoconhecimento” representava no início da história da humanidade, e no contexto filosófico, como um caminho para acessar algo mais profundo: a verdade, o bem, a alma – quase que um exercício de humildade e lucidez, atualmente se tornou uma palavra de interesse puramente comercial. Sem profundidade, sem qualquer ética, diálogo, dúvida, paciência ou silêncio. Ou seja, o autoconhecimento que vem sendo citado no mundo atual perdeu sua profundidade real e passou a ser uma ferramenta a serviço da “alta performance”.


A essência de Conhece-te a ti mesmo foi fragmentada! O que antes era considerado uma experiência única e espiritual de cada um, tornou-se produto de mercado. E a mensagem subliminar que se encontra nesses produtos é de que ninguém mais consegue encontrar valor sozinho — e que é preciso comprar, consumir, copiar, seguir, assistir para aprender um autoconhecimento que de “auto” não tem nada... são apenas mais moldes. E, a cada dia que passa, as pessoas se tornam menos autônomas sobre suas vontades, desejos... vidas. E é justamente quando todos tentam seguir um único “padrão” que o mundo adoece, pouco a pouco, quase que silenciosamente.


“Porque, quando todos tentam caber no mesmo molde, o mundo se esvazia de identidade, de diversidade... de pessoas de verdade”

Então, o que fazer para voltarmos a ser pessoas de verdade? Ou melhor: o que significa ser alguém de verdade?


Para conseguir chegar nessa resposta, será necessária uma “desconstrução” desse modelo rígido de autoconhecimento de hoje em dia. A cobrança por produtividade, excelência, versões que se repetem de pessoa para pessoa não faz parte da nossa essência como seres humanos porque somos cíclicos.


Isso significa que estamos sempre mudando! Por dentro e por fora. Você pode mudar seu jeito de pensar, agir e ser o tempo todo. Consequentemente, isso afetará seu estilo de vida, sua carreira, suas relações, a maneira de aceitar (ou não) o que é imposto pelo outro. É se permitir mudar, errar, contradizer... aprender — sem perder de vista a essência por trás de tudo isso: o autoconhecimento. Porque o autoconhecimento é um caminho vivo, que pulsa novas descobertas a cada ciclo da vida.


“Note o quão ameaçadora uma pessoa que pensa

e questiona se torna para o mercado!?”


Uma grande chave se vira, e uma nova realidade no mundo é construída quando alguém começa a questionar os padrões, pois ela se desprende da cegueira coletiva e, aos poucos, dá passos profundos em direção à saúde emocional e à LIBERDADE!


Por isso, gostar de si é um ato de resistência! Porque ao fazer isso, você será capaz de despertar das “mentiras” e “falsas promessas” que o mundo apresenta.

 

“Não é sobre se tornar melhor aos olhos do mundo (como querem), mas sobre se tornar mais inteiro para si mesmo!”

 

Quando eu, você e outros despertamos para o verdadeiro autoconhecimento, trazemos de volta a busca pela autenticidade, a escuta interna e as pazes com a ciclicidade.


E ao fazer as pazes com a ciclicidade, nota-se que não há saúde no estático. A vida pulsa no movimento desde o nascimento até a morte através das suas diferentes fases: nas crises, nas alegrias, no crescer, no envelhecer.


“Autoconhecimento, quando vivido de verdade, nos devolve essa dança”

Como mencionado anteriormente, a busca pela “alta performance” propõe uma mudança que leva embora qualidades e versões autênticas suas. Logo, quando você assume uma versão que não te permite ser quem é – isso é uma mentira.


A própria Psicanálise dialoga com a ideia de que nenhum sujeito é uma identidade fixa, mas um vasto campo de desejo, conflito e transformação. “Ser alguém” é um processo, nunca um estado permanente. E talvez aqui esteja um dos motivos pelo aumento de casos de depressão, ansiedade e seríssimas crises de identidade: o mundo tenta classificar como inapropriado a pessoa que não consegue ser “fixa”. Porém, não deve ser o mundo o responsável por essa classificação, concorda?


Novamente, gostar de si é um ato de resistência! É não se obrigar a estar sempre bem. É não cair em discursos que usam espiritualidade ou da própria psicologia (de forma irresponsável, sem ética) como ferramentas de repressão emocional.


Ser alguém de verdade é se permitir mudar sem se perder de si e sem perder sua saúde física, mental e emocional. E isso só é possível quando a jornada é real — e não performática. Ou como diria Platão, conhecer a si mesmo é um caminho de purificação da alma, de reencontro com sua verdade original.


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Beatriz Job

Psicóloga para entender o comportamento humano. Psicanalista para desvendar os mistérios do Inconsciente. E Escritora para descrever as linguagens da mente, do coração e da alma.

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